Weber Silva
Quanto você estaria disposto a pagar por um copo d’água neste momento? Com o corpo devidamente hidratado, em temperatura confortável, provavelmente não empregaria muito dinheiro nisso. Agora, se imagine no bioma mais quente e seco do Brasil, onde as árvores perdem suas folhas para preservar a umidade e os animais apresentam adaptações evolutivas selecionadas nessas condições – certamente você refaria suas contas. O nome desse ambiente é Caatinga, onde os recursos hidricos deveriam ser extremamente valorizados, sobretudo nas áreas de florestas sempre verdes onde nascem os rios que cruzam as paisagens mais áridas. Uma dessas zonas análogas aos oásis nos desertos está nas encostas da chapada do Araripe, onde a Rainforest Trust apoia ações da Aquasis, uma ONG que atua desde 1994 na conservação de ecossistemas.
A região do Araripe divide os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. Contém um plateau com mais de 2,400,000 acres, situado onde existia um oceano da época em que a América do Sul e a África começaram a se separar. Em seu interior existem três andares de aquíferos, um dos quais permite a manutenção de uma floresta sempre verde, com espécies exclusivas e ameaçadas de extinção. Às vezes pode não ser fácil convencer o poder público brasileiro quanto à importância de viabilizar a conservação de ambientes assim, todavia, houve algum avanço. Nesse sentido, um trabalho de sensibilização vem sendo desenvolvido junto à sociedade local utilizando-se de uma espécie-bandeira, o pássaro Araripe Manakin. Entre os resultados, duas propriedades da Aquasis são as primeiras do Ceará a receber recursos públicos municipais para proteger suas florestas.
A frente de pagamentos pela produção de água também conta com recursos da iniciativa privada e pode ser expandida junto aos governos estadual e federal. Além de abastecer diretamente mais de 3,600 pessoas, as águas das fontes protegidas pela Aquasis são manejadas para criação de ambiente ciliares voltados às espécies ameaçadas de extinção. É notável o crescimento das florestas que eram solo exposto em 1985, onde hoje transitam até mesmo pumas. Um estudo envolvendo a capacidade de reter o CO2 atmosférico foi realizado em uma área da Aquasis e pode auxiliar frentes de pagamento por créditos de carbono, o que serviria ajudaria na sustentabilidade financeira das áreas protegidas. Publicado na revista Environmental Development, o estudo sugere que cada hectare pode render quase USD1,125.00 por acre/ano, o que bastaria para sustentar as reservas.
A aquisição de novas áreas de conservação tem importância para a biologia da conservação, no entanto, torná-las economicamente sustentáveis é um desafio e tanto no contexto de retomada de uma política ambiental no país. A Rainforest Trust apoiará a Aquasis por quatro anos, coincidindo exatamente com o ciclo de gestão política nacional. Além de implementar agendas de pagamentos por serviços ambientais, o projeto também prevê o desenvolvimento de outras frentes de atividades, como turismo, cursos de formação e produção ambientalmente sustentável de alimentos. Os indicadores de sucesso desta iniciativa são as espécies ameaçadas, cujos contingentes serão medidos ao longo dos anos para saber se irão apresentar recuperação. Ações da Aquasis na Chapada do Araripe tiveram início em 2004, devendo passar por uma sucessão geracional de pessoas envolvidas.
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