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Peixe-boi-marinho segue criticamente ameaçado: Aquasis celebra avanços e reforça alerta para conservação da espécie no Ceará

Atualizado: 27 de jun.

ONG cearense já reabilitou e soltou 10 indivíduos na natureza e articula a repatriação do peixe-boi Tico, resgatado na Venezuela

Equipe do Programa de Mamíferos Marinhos da Aquasis em atendimento de encalhe de filhote - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis
Equipe do Programa de Mamíferos Marinhos da Aquasis em atendimento de encalhe de filhote - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis

Um dos mamíferos aquáticos mais ameaçados do Brasil, o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) permanece em risco crítico de extinção e exige atenção urgente de gestores públicos, pesquisadores e sociedade civil. Desde 1994, a ONG Aquasis tem sido protagonista na conservação da espécie no litoral cearense, região com o maior número de encalhes registrados no país. Ao longo de mais de três décadas, a instituição ampliou e fortaleceu seu trabalho, estruturando um centro de reabilitação, promovendo solturas monitoradas e articulando políticas públicas para proteger a espécie e seu habitat.


Hoje, o litoral do Ceará é referência nacional no cuidado com a espécie e concentra uma das populações mais bem estudadas do país, com destaque para o município de Icapuí. Ao todo, vivem cerca de 100 indivíduos em todo o estado — número considerado extremamente baixo, e que alerta para a urgência da conservação.


Três décadas de história e compromisso ambiental

A Aquasis foi fundada há 31 anos e, desde o início, desenvolve ações voltadas à conservação de mamíferos aquáticos, com foco especial no peixe-boi-marinho. Inicialmente, os filhotes encalhados no Ceará eram transferidos para reabilitação em Pernambuco, mas a realidade mudou com a construção do Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM) na Colônia Ecológica Sesc Iparana, em Caucaia, em 2001. A estrutura foi ampliada em 2013, através do Projeto Manatí, que contou com o importante apoio da Fercomércio - Sesc Ceará e o patrocinado pela Petrobras, o que possibilitou reabilitações completas no próprio estado.

Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM) da Aquasis, em Caucaia/CE - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis
Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM) da Aquasis, em Caucaia/CE - Foto: Mika Holanda / Acervo Aquasis

Em 2020, um passo fundamental foi dado com a criação do recinto de aclimatação na Praia de Peroba, em Icapuí. A partir de 2021, os primeiros peixes-bois reabilitados e aclimatados passaram a ser soltos no litoral cearense. Até 2025, 10 animais já foram soltos pela instituição, com acompanhamento técnico intensivo após o retorno à natureza.

Recinto de Aclimatação em ambiente natural, na Praia de Peroba, município de Icapuí/CE - Foto: Lucas Pereira / Acervo Aquasis
Recinto de Aclimatação em ambiente natural, na Praia de Peroba, município de Icapuí/CE - Foto: Lucas Pereira / Acervo Aquasis
Reabilitação completa e monitoramento de longo prazo

Cada peixe-boi-marinho que chega à Aquasis recebe cuidados veterinários, alimentação especializada e acompanhamento comportamental. O processo de reabilitação e aclimatação dura, em média, sete anos e meio — embora o ideal seja que os animais retornem ao mar até os cinco anos de idade. O tempo prolongado se deve, em parte, à ausência de um recinto de aclimatação nos primeiros anos de operação do CRMM.

Peixe-boi-marinho sendo monitorado com equipamento de telemetria acoplado - Foto: Acervo Aquasis
Peixe-boi-marinho sendo monitorado com equipamento de telemetria acoplado - Foto: Acervo Aquasis

Após a soltura, os animais são monitorados por até um ano com o uso de transmissores acoplados à base da cauda, que enviam sinais via satélite e rádio. Equipes acompanham seus deslocamentos diários e possíveis interações de risco com embarcações ou populações humanas. Dos 10 já soltos, dois foram plenamente adaptados, dois seguem em monitoramento, três perderam os transmissores antes de completar um ano, um foi resgatado na Venezuela e dois vieram a óbito por causas humanas: atropelamento e ingestão de plástico.


Conservação em rede: atuação integrada no Brasil

A Aquasis é a única instituição não governamental do país com capacidade de reabilitar e soltar peixes-bois-marinhos. Além dela, há unidades operadas pelo poder público em Itamaracá (PE), Porto de Pedras (AL), sob gestão federal do Centro de Pesquisa e Conservação dos Mamíferos Aquáticos - ICMBio/CMA e no RN, via Projeto Cetáceos da Costa Branca/UERN. Universidades e outras ONGs também atuam no resgate e pesquisa da espécie, que enfrenta diversas ameaças: perda de habitat, pesca predatória, poluição sonora e química, e até caça, ainda registrada em estados como Maranhão e Pará.


A última estimativa populacional, de 2013, indicava apenas 1104 indivíduos entre Alagoas e Piauí — número que, segundo o ICMBio, pode estar em declínio. A nova lista vermelha nacional, a ser publicada em 2025, deve manter o peixe-boi-marinho na categoria de risco máximo: criticamente ameaçado de extinção.


Caso Tico: repatriação em curso após dois anos na Venezuela

Entre os casos mais emblemáticos acompanhados pela Aquasis está o de Tico, peixe-boi resgatado no Ceará e que, após um deslocamento atípico, foi encontrado em águas venezuelanas. Desde 2022, ele está sob cuidados no zoológico de Barquisimeto. Em junho de 2024, técnicos da ONG estiveram no local para avaliar sua condição, considerada estável, e alinhar protocolos com profissionais venezuelanos. A operação de repatriação foi dificultada por entraves logísticos e diplomáticos, mas deve ser viabilizada ainda em 2025, com apoio da Força Aérea Brasileira e parceria técnica com a Petrobras.

Equipe técnica do PMM em visita ao Parque Zoológico e Botânico Bararida, em Barquisimeto/Venezuela - Foto: Acervo Aquasis
Equipe técnica do PMM em visita ao Parque Zoológico e Botânico Bararida, em Barquisimeto/Venezuela - Foto: Acervo Aquasis
A importância do Ceará na sobrevivência da espécie

O litoral cearense, especialmente a região de Icapuí, é considerado um refúgio para o peixe-boi-marinho. A presença de bancos de algas e capim-agulha, águas rasas e calmas, e olhos d’água marinhos tornam o local propício à alimentação, reprodução e nascimento dos filhotes. No entanto, essas condições naturais vêm sendo ameaçadas por pressões humanas, o que torna ainda mais urgente a ampliação dos esforços de conservação.

“A recuperação do peixe-boi-marinho depende da atuação integrada entre instituições públicas, ONGs e comunidades locais. O Ceará tem um papel fundamental nessa história”, ressalta o médico veterinário Vitor Luz, gerente do Programa de Mamíferos Marinhos e atual vice-presidente da Aquasis.

Sobre a Aquasis

A Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos – Aquasis é uma organização da sociedade civil fundada em 1994, dedicada à conservação da biodiversidade com foco em espécies ameaçadas. Com sede em Caucaia (CE), a Aquasis atua na conservação de mamíferos aquáticos, aves endêmicas e migratórias, e ambientes costeiros, com apoio de diversas instituições nacionais e internacionais.


Para mais informações, entre em contato:

Whatsapp ASCOM: wa.me/55858452-1274

 
 
 

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